sábado, 10 de maio de 2014

Passado




E as vezes bate uma saudade de coisas que se fizeram presentes por tanto tempo, mas que hoje se encontram em um passado longínquo, inacessível e inalcançável. São pessoas e momentos com elas compartilhados, de repente, recolhidos à lembranças como um velho brinquedo partido que não pode ser consertado. Pode-se tentar colar ou remontar, mas objetos remendados nunca serão os mesmos, e provavelmente se quebrarão novamente em breve, de maneira irreversível.
Há coisas que não podem ser reconstruídas ou consertadas, e a amizade é com certeza uma delas. Certos atos geram sequelas, muitas vezes invisíveis aos olhos de quem as causam, mas dolorosamente sentidas por aqueles que as sofrem. Tais marcas cicatrizam um pouco com o tempo, dando uma certa ilusão de cura. Mas vez ou outra a ferida se abre e sangra como se nunca tivesse se fechado. E de repente você se vê engolindo o choro e fingindo não sentir, empurra pro fundo do peito a mágoa, trancando a sete chaves aquilo que um dia te fez bem. Vê passarem diante dos seus olhos datas que em outra época seriam compartilhadas, mas que hoje se resumem a só mais um dia qualquer no calendário. 
O pior de tudo é ver pessoas que não merecem ocupar um lugar que um dia foi seu, mas tendo a felicidade de chegar a conclusão de que o outro é quem não merecia te ter do lado.
A vida é feita de escolhas. Não só dos caminhos a seguir, mas dos companheiros que nos empurrarão ao longo deles. A própria vida se encarrega de mostrar quem vale a pena se carregar, em limpezas na maioria das vezes dolorosas.
Você é a flor principal de seu jardim, mas não seja a erva daninha do jardim dos outros. As flores crescem juntas e resplandecem a cada primavera, enquanto as ervas daninhas são arrancadas e servem de adubo para que as flores cresçam ainda mais fortes.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Desistência



Sabe.. Eu cansei de esperar que as coisas voltassem a ser como eram antes. De tentar fazer com que você voltasse a ser a pessoa que eu conhecia e de ansiar pela volta daquela a quem eu me orgulhava por dizerem que eu me parecia. Aquela presente nas minhas melhores lembranças de infância, aquela que sempre foi mais que minha tia, mas sim a primeira amiga de verdade que tive na vida. Por muitas vezes aquela que me fez chorar, mas que nos últimos tempos me trazia um sorriso aos lábios a cada vez que eu via que estava bem.

Após o que me pareceu um belo dia de sol após uma época de tempestades constantes, vi novamente morrendo aquela mínima faísca de esperança que insistiu em brotar no meu peito, mesmo depois de tantas promessas que me fiz de não deixar nunca mais que isso acontecesse. Mas aconteceu. De novo. E pior. 

Ás vezes eu queria que você fosse menos importante pra mim, pelo simples fato de que a importância que eu delego apenas à você, é de longe maior do que aquela que você demonstra dar à toda a sua família. Sinceramente? Nunca pensei que chegaria o dia em que eu ficaria feliz em constatar que as escolhas que fiz para mim sejam tão diferentes das que você fez pra você. Ou que veria como uma coisa boa o fato de que nossas semelhanças talvez se resumam ao sobrenome e alguns traços de genética. Nada mais. 

Dói pensar que eram infundadas as minhas esperanças de que esse ser que tomou o seu lugar nada mais era que uma provação que você teria que passar, junto conosco que caminhamos ao seu lado. Provação esta que você enfrentaria de cabeça erguida e nos encheria com o orgulho que até poucos dias estampava o nosso rosto. E que isso tudo serviria então para que eu tivesse a certeza de que eu podia continuar me espelhando em você como quando eu era criança, e que todos esses anos eu estava certa em querer ser metade da figura a quem eu te associava. 

Bom, agora eu cresci e às duras penas percebi que não importa o quanto eu tente ajudar, reze, peça ou demonstre o quanto as coisas possam ser melhores, você não vai mudar. As oportunidades perdidas só me mostram que não faltaram chances para que você desse a volta por cima, mas sim vontade da sua parte para fazer tudo diferente. Não importa o quanto me magoe admitir, quanto a isso eu não posso lutar. 

Mas não ficarei parada vendo as pessoas que eu amo sofrerem por causa das escolhas que você fez para sua vida. Não adianta mais dar murro em ponta de faca e me machucar cada vez mais sem retorno algum. Sendo que você nem sequer percebe que é você mesma quem maneja a faca sem o menor remorso, sem se importar em quem atinge, usando-a para cravar dia após dia nas pessoas que mais te amam no mundo. 

A cada vez que falha de propósito, só nos mostra que seu amor pela própria vida e daquela que tanto depende de você é tão ínfimo que não te parece importante lutar. Não há mais nada que explique a dor na qual há anos você insere aquela a quem era sua obrigação  cuidar e proteger.

Pode ser que eu mude de idéia amanhã e que esse texto seja só mais uma das várias tentativas de me proteger de sofrer com as suas ações, mas por ora, nada mais me importa. A única vida que eu posso viver é a minha e os meus erros são os únicos que eu posso consertar. 


terça-feira, 31 de janeiro de 2012



Namore uma garota que leia
(Autor Desconhecido)

Namore uma garota que gasta seu dinheiro em livros, em vez de roupas. Ela também tem problemas com o espaço do armário, mas é só porque tem livros demais. Namore uma garota que tem uma lista de livros que quer ler e que possui seu cartão de biblioteca desde os doze anos.
Encontre uma garota que lê. Você sabe que ela lê porque ela sempre vai ter um livro não lido na bolsa. Ela é aquela que olha amorosamente para as prateleiras da livraria, a única que surta (ainda que em silêncio) quando encontra o livro que quer. Você está vendo uma garota estranha cheirar as páginas de um livro antigo em um sebo? Essa é a leitora. Nunca resiste a cheirar as páginas, especialmente quando ficaram amarelas.

Ela é a garota que lê enquanto espera em um Café na rua. Se você espiar sua xícara, verá que a espuma do leite ainda flutua por sobre a bebida, porque ela está absorta. Perdida em um mundo criado pelo autor. Sente-se. Se quiser ela pode vê-lo de relance, porque a maior parte das garotas que leem não gostam de ser interrompidas. Pergunte se ela está gostando do livro.

Compre para ela outra xícara de café.
Diga o que realmente pensa sobre o Murakami. Descubra se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Entenda que, se ela diz que compreendeu o Ulisses de James Joyce, é só para parecer inteligente. Pergunte se ela gosta ou gostaria de ser a Alice.
É fácil namorar uma garota que lê. Ofereça livros no aniversário dela, no Natal e em comemorações de namoro. Ofereça o dom das palavras na poesia, na música. Ofereça Neruda, Sexton Pound, cummings. Deixe que ela saiba que você entende que as palavras são amor. Entenda que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade mas, juro por Deus, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco como seu livro favorito. E se ela conseguir não será por sua causa.

É que ela tem que arriscar, de alguma forma. Minta. Se ela compreender sintaxe, vai perceber a sua necessidade de mentir. Por trás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, nuance, diálogo. E isto nunca será o fim do mundo.

Trate de desiludi-la. Porque uma garota que lê sabe que o fracasso leva sempre ao clímax. Essas garotas sabem que todas as coisas chegam ao fim. E que sempre se pode escrever uma continuação. E que você pode começar outra vez e de novo, e continuar a ser o herói. E que na vida é preciso haver um vilão ou dois. Por que ter medo de tudo o que você não é? As garotas que leem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem. Exceto as da série Crepúsculo.

Se você encontrar uma garota que leia, é melhor mantê-la por perto. Quando encontrá-la acordada às duas da manhã, chorando e apertando um livro contra o peito, prepare uma xícara de chá e abrace-a. Você pode perdê-la por um par de horas, mas ela sempre vai voltar para você. E falará como se as personagens do livro fossem reais – até porque, durante algum tempo, são mesmo.
Você tem de se declarar a ela em um balão de ar quente. Ou durante um show de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Ou pelo Skype.
Você vai sorrir tanto que acabará por se perguntar por que é que o seu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Vocês escreverão a história das suas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos mais estranhos ainda. Ela vai apresentar os seus filhos ao Gato do Chapéu [Cat in the Hat] e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos de suas velhices, e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto você sacode a neve das botas.

Namore uma garota que lê porque você merece. Merece uma garota que pode te dar a vida mais colorida que você puder imaginar. Se você só puder oferecer-lhe monotonia, horas requentadas e propostas meia-boca, então estará melhor sozinho. Mas se quiser o mundo, e outros mundos além, namore uma garota que lê.

Ou, melhor ainda, namore uma garota que escreve.


terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Falsidade

A vida é assumir riscos. Sim, eu assumi um dos grandes. Peguei para mim uma responsabilidade que não era minha, de resolver problemas de alguém que nunca sequer vi, mas que jurava conhecer. Porque? Por crer naquilo que sempre chamei de amizade.
Após tempos de ilusão e mentiras, descubro que quem eu amei e cuidei nem sequer existe. É um personagem. Fruto de uma mente insana para ludibriar nobres de alma, por um motivo frívolo e egoísta. Brincando com sentimentos e abusando de boas vontades. Me frustra ver que de novo me deixei levar por pessoas falsas, apesar de a cada vez prometer que será a última. Tudo bem. Na vida deparamos com os mais diversos tipos de pessoas, mas as vezes me assusta o quão frias e individualistas algumas delas conseguem ser. Isso é só prova de que eu sei o que é abrir mão de mim mesma em função de um amigo, mesmo que no fim das contas, esse amigo jamais tenha existido.
A pior parte é que sem querer começamos a duvidar de tudo e de todos, mesmo daqueles que nunca nos deram motivo pra desconfiar, e nunca nos fizeram nada. Instinto de preservação. Defesa contra uma próxima vez que eu espero nunca mais ter.
Ah, mas a vida é assim mesmo. O plantio é livre, mas a colheita é obrigatória. Lembre-se que podem te tirar tudo, menos o seu caráter. Mas uma vez que já não se tem, dificilmente o criará. Que saia de mim e se materialize nessas palavras toda e qualquer sombra do que aconteceu. Tudo passa. E pode ter a certeza que não levarei pra esquecer nem metade do tempo que levei pra confiar.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Saudade





   É tão bom estar em casa. Voltar depois de tanto tempo, e encontrar tudo o que você queria, mas não pode levar na partida. Que sensação boa, se ver novamente parte da rotina de uma família, da sua família. Se ver de repente em uma ambiente tão familiar, o qual você conhece cada detalhe e que é onde você gosta de estar.
   Sinto falta do pacato, do sossegado, do mato, e do ar puro. De sair na rua cumprimentando a todos, e observando tudo, notando cada mínima mudança dessa cidade tão pequena, mas que tem um significado tão grande pra tanta gente. Embora se haja a consciência de que o tempo em que ficaremos aqui é curto, já é fonte de sanidade o suficiente pra que eu não nos deixemos sucumbir pela rotina de peão a que fomos obrigados a nos acostumar. Mesmo que você ame o lugar pra onde você foi, “a saudade de casa é pra sempre”, e passamos a viver um dia após o outro, esperando por aquele em que estaremos de volta ao nosso verdadeiro lar.
   Nada se compara à mudança da paisagem durante a viagem, onde o cinza vai gradativamente dando lugar ao verde, e a ansiedade pra chegar dá a impressão de que o tempo ,de repente, resolveu passar mais devagar. Quando os planos sobre o que fazer primeiro, são a maior preocupação que temos na cabeça, e o ultimo pensamento que queremos ter é o de que daqui a pouco tempo, teremos que ir embora de novo.
   Mas seja no próximo fim de semana, daqui a um mês, um ano, ou uma década, a gente sempre sabe iremos voltar.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Impulso


Quão cruel o ser humano pode ser? Com que direito fazemos uso das palavras como uma arma? Arma essa, cujo poder de destruição é o mesmo, se não maior, do que o de uma arma de fogo. O ferimento causado pela arma de fogo, dependendo do lugar atingido é capaz de se recuperar a ponto de um dia parecer que nunca ocorreu, já as palavras quando atingem o alvo, causam estragos muitas vezes irreversíveis, cujas raízes se fixam na alma, e por mais que o tempo passe, elas ainda estarão lá, como cicatrizes eternas de ferimentos incuráveis.
Quanto desespero causa uma palavra pronunciada, a qual seu maior desejo é que ela retorne de onde saiu, pelo simples fato de que aquilo, simplesmente não é o que se queria dizer. O pior é saber que não é nem a primeira, nem a ultima vez em que uma palavra vai magoar alguém que ama. O que resta é se desculpar, rezando e pedindo a Deus um pouco menos de impulsividade, para que você pare de se sentir culpado por ter causado sofrimento, àqueles aos quais você só queria dar amor.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ter ou não ter namorado - Arthur da Távola

Li esse texto hoje e simplesmente o adorei. É grande, mas é completamente verdade. Claro que esse post é dedicado ao amor da minha vida, Flávio. (:





TER OU NÃO TER NAMORADO


Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas.
Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil.
Mas namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado é quem não tem amor, é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema na sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugídia ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto.
Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira - d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz.
Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. ENLOU-CRESÇA.