terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Impulso


Quão cruel o ser humano pode ser? Com que direito fazemos uso das palavras como uma arma? Arma essa, cujo poder de destruição é o mesmo, se não maior, do que o de uma arma de fogo. O ferimento causado pela arma de fogo, dependendo do lugar atingido é capaz de se recuperar a ponto de um dia parecer que nunca ocorreu, já as palavras quando atingem o alvo, causam estragos muitas vezes irreversíveis, cujas raízes se fixam na alma, e por mais que o tempo passe, elas ainda estarão lá, como cicatrizes eternas de ferimentos incuráveis.
Quanto desespero causa uma palavra pronunciada, a qual seu maior desejo é que ela retorne de onde saiu, pelo simples fato de que aquilo, simplesmente não é o que se queria dizer. O pior é saber que não é nem a primeira, nem a ultima vez em que uma palavra vai magoar alguém que ama. O que resta é se desculpar, rezando e pedindo a Deus um pouco menos de impulsividade, para que você pare de se sentir culpado por ter causado sofrimento, àqueles aos quais você só queria dar amor.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Ter ou não ter namorado - Arthur da Távola

Li esse texto hoje e simplesmente o adorei. É grande, mas é completamente verdade. Claro que esse post é dedicado ao amor da minha vida, Flávio. (:





TER OU NÃO TER NAMORADO


Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas.
Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil.
Mas namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado é quem não tem amor, é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema na sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugídia ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto.
Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira - d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz.
Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim.
Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. ENLOU-CRESÇA.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Eu Juro - Crônica do Antônio Prata

Vou postar aqui o meu texto preferido no mundo. É uma crônica do Antônio Prata, que li pela primeira vez na extinta coluna "Estive Pensando" da revista Capricho (quando ela ainda era boa) há muitos anos atrás. É um texto que todos deveriam ler quando estiverem tristes.




Você está passando por um momento difícil? Calma, vai passar.

Olhe, não fique assim, não, vai passar. Eu sei como dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai aguentar, mas aguenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar ( Fernando Pessoa escreveu, num momento parecido, " hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu" ).

Dor é assim mesmo, arde, depois passa. Que bom. Aliás, a vida é assim: arde, depois passa. Que pena. A gente acha que não vai aguentar, mas aguenta: as dores e a vida.

Pense assim: agora tá insuportável, agora você queria abrir o zíper, sair do corpo, encarnar numa samambaia, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa. Mas agora já passou. Sua dor já é dez segundos menor do que duas linhas atrás.

Você acha que não, mas esperar a dor passar é como olhar um transatlântico no horizonte estando na praia. Ele parece parado, mas aí você desvia o olho, toma um picolé, lê uma revista, dá um pulo no mar e quando vai ver o barco já tá lá longe.

A sua dor agora, essa fogueira na sua barriga, esse chumbo na garganta, essa sensação de que pegaram sua traquéia e seu estômago e torceram como uma toalha molhada, isso tudo - é difícil de acreditar, eu sei - vai virar só uma memória, um pequeno ponto negro diluído num imenso mar de memórias. Levante-se daí, vá tomar um picolé, ler uma revista, dar um pulo no mar. Quando você for ver, já passou.

Agora não dá mesmo pra ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a gente deve ser feliz sempre? Isso é uma bobagem. Como cantou Vinícius: "É melhor viver do que ser feliz". Porque pra viver de verdade a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, eu sei como dói. Mas passa.

Tá vendo a felicidade ali na frente? Não, você não tá vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir e o único jeito de deixá-la para trás é continuar andando. Você vai ser feliz.

Tá vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que tô falando a verdade. Eu não minto. Vai passar.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Deserção



O que dizer quando se espera uma palavra de apoio e só se encontra julgamentos? Nada. O que me resta é chorar, botar pra fora toda a mágoa que guardo em meu coração, e logo depois, levantar a cabeça e tentar dar a volta por cima. Não deixe nunca que os seus sonhos dependam de outras pessoas. Por mais difícil que seja o começo da trilha quando se está sozinho, depender dos outros é dar um passo pra frente e dois pra trás, por mais próximas que sejam essas pessoas. É duro, ah, eu sei como é duro. Dizem que não sabemos nada da vida, mas são eles quem não sabem nada do mundo em que vivemos hoje. Tomam verdades como absolutas, jogam na cara as coisas que fazem por nós, mas quando mostramos a eles que também fazemos algo por eles estamos sendo ingratos. Que justiça é essa onde o respeito exigido não é recíproco?

A gente luta pensando no bem para a família, e quando se precisa de uma palavra amiga, um afago de mãe, o que se recebe é uma frase que te faz pensar se realmente está valendo a pena tudo isso. Triste é tentar parar de chorar, e qualquer coisa te fazer sucumbir às lágrimas novamente.

A minha sorte é que as palavras de consolo que não encontrei em uma pessoa, encontrei em outra que nunca me julgou, que reconhece o meu esforço e que sempre que eu precisei esteve do meu lado. A única pessoa a quem posso recorrer nessa cidade de estranhos. Sem esse pilar de sustentação, os meus alicerces já haviam ruído a muito tempo.

Não farei mais nada tentando orgulhar alguém, que não seja à mim mesma. Deixo aqui registrada a minha deserção, cansei de ser julgada. Apesar de todas as adversidades, e de todas as turbulências, eu não desisto. Eu tracei metas, e nelas eu vou até o fim. E se Deus quiser, daqui a alguns anos, retribuirei atirando flores, à quem um dia me atirou pedras.

domingo, 5 de setembro de 2010

Música


Algo me faz ter certeza de que tem algo maior que rege o universo. Tenho a impressão de que eu componho as notas da minha vida da maneira que acho melhor, ás vezes erro a arranjo, as notas não batem, mas há sempre um ouvido absoluto que me mostra uma nota que se encaixa melhor à minha música. Sei que a sua dinâmica, seus fortes e pianos, sua harmonia, os retoques que fazem com que a música seja boa aos meus ouvidos e ao dos outros, só o maestro da vida é capaz de compor.

Uma das partes mais importantes da musica são os acompanhamentos, nenhum instrumento é tão bom quando uma orquestra inteira. Eu, definitivamente, nada sou, sem as pessoas que estão ao meu lado. As minhas desafinações se tornam imperceptíveis desde que eu tenha acompanhamentos firmes ao meu lado, até o momento em que retorno, e confiante, apresento o meu solo. Graves e agudos, melodia e harmonia, se completam, e cada qual a sua maneira, ajudam a compor a canção da minha vida.

Nesse momento a minha trilha sonora está tal qual uma valsa, com ritmo lento e harmônico, uma melodia que transporta os pensamentos a outras dimensões e nos instiga a dançar lentamente, pra lá e pra cá, sentindo cada batida, aproveitando cada momento, antes que a música chegue ao fim e dê ligar à outra música, à outro ritmo..

Paz


Ás vezes é preciso tão pouco pra ser feliz. Colocamos tantas barreiras no nosso caminho , que não reparamos o quanto a felicidade está perto, e que ela só depende de nós. Se conseguimos colocar uma certa sintonia em nossa vida, criaremos a consciência de que ninguém, a não ser nós mesmos podemos atrapalhá-la, e a segurança que isso nos proporciona é infinita. A tempos não me sentia como me sinto hoje, plena, feliz. Sinto que cada coisa está em seu lugar e que tudo é como deveria ser. Os pequenos problemas não tem me atingido mais, porque o que eu tenho de bom supera qualquer mal que possa assolar sobre mim. Minhas orações tem sido mais agradecimentos que pedidos e a paz que trago comigo ninguém é capaz de me tirar. Me sinto inteira, completa, como se nada me faltasse. Me sinto a pessoa mais sortuda do mundo por tudo que eu tenho, talvez eu nem mereça tamanha felicidade, mas enquanto eu a tiver, vou aproveitá-la ao máximo, e tentar de todo modo manter a sintonia que fará com que ela seja minha amiga constante, e que andará lado a lado comigo por todo o caminho..

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Vácuo


Você me diz que eu não sei o que eu quero pra mim. Talvez eu não saiba mesmo. Mas eu sei exatamente o que eu não quero, o que eu não posso suportar. Eu preciso do que preenche o vazio do meu peito. Seja o que for que eu queira para o futuro, não tem nenhum sentido se não for você quem me levará até ele. É tão difícil entender que eu não quero futuro nenhum, que não seja ao seu lado? Porque as milhões de vezes que te disse isso, foram tão facilmente varridas da sua lembrança?

Odeio essa sensação de vazio infinito na qual me encontro. Como se dentro de mim não houvesse nada, e o que ali tinha, tivesse sido arrancado de modo abrupto e com tal intensidade, que talvez seja impossível reparar o dano. Um sentimento de desesperança, onde se olha pra frente e só se enxerga escuridão, onde não existem luzes no fim do túnel. Como levantar a cabeça e lutar? De onde tirar forças para me recuperar, sendo que a fonte de onde vinham as minhas forças, foi embora junto com você? Serei eu forte o suficiente pra lidar com isso? Confesso que não sei.

Será que terei que conviver com esse vazio pra sempre? Ter que vê-lo ir, querendo a todo custo trazê-lo de volta? Quem sabe já é tarde demais, e eu terei que aprender a conviver com esse vácuo interno. Não gosto dessa impotência, não a desejo pra ninguém. Agora não está mais em minhas mãos. Preciso de uma resposta, antes que o resto de mim se torne tão vazio quanto o meu peito se encontra, e já não seja possível sair do buraco em que me afundo cada vez mais.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Encruzilhada


De repente me vejo em uma situação em que eu nunca quis estar. Tendo que procurar as cegas, uma segunda opção. Estou parada em uma encruzilhada, onde só quero ir para o lado onde eu sei que se encontra a minha felicidade, mas talvez esse lado esteja fechado pra mim. Então me vejo obrigada a olhar para o outro caminho, temendo o que eu possa encontrar lá, mas com a certeza de que nada de bom me espera. Nunca pensei em um final pra essa história que não fosse o “final feliz”, nunca passou pela minha cabeça que poderia um dia ficar sem o que foi pra mim todo esse tempo, a base de toda a minha vida.

Por mais esperança que eu tenha em conseguir pular o obstáculo que me levará ao caminho da minha felicidade, o medo de não conseguir é o sentimento mais presente em mim no momento. Se ele vai me impedir de tentar? É claro que não. Mas acho que admiti-lo já é meio caminho para enfrentá-lo, e é isso que estou fazendo. O meu maior medo é que o meu máximo não seja o bastante. Claro que eu vou tentar de tudo, porque quanto mais eu tentar, maior a minha chance de conseguir. Mas essa história de se não for, eu posso pensar “eu tentei de tudo”, pra mim só funciona na teoria, a minha dor não vai diminuir. Porque por menor, ou maior que tenha sido o meu esforço, no final, eu não vou ter conseguido, e o segundo caminho vai ser minha única opção.

Que armas usar? Eu não faço idéia. Mas sejam quais forem, dentre elas estará a arma mais forte que eu tenho, o meu amor, sem o qual eu nem sequer entraria em campo, pra uma batalha que eu nem sei se posso vencer. E, este é o único caso onde o fim oblitera o caminho - o amor.

Desabafo


Não sei de verdade o que me fez mudar, o que me fez deixar de dar valor pra quem sempre foi tudo pra mim, quem sempre fez tudo por mim. Só Deus sabe o quanto é ruim fazer as coisas sem a intenção e só perceber quando já é irreversível. Ver tudo que construímos juntos indo por água a baixo e saber que, mesmo que sem querer, foi você quem abriu a torneira. É um sentimento de desespero, como se o visse indo embora em um trem, o qual você não tem o poder de parar.

Como se você ganhasse um cachorrinho que sempre quis, e um tempo depois, em um momento de distração, você o deixasse fugir. E ao perceber o que fez, não pudesse fazer nada para tê-lo de volta, a não ser olhá-lo, indo, livre, se afastando de você. Você tenta correr com todas as suas forças para alcançá-lo, mas ele está longe e o que te resta fazer é parar e vê-lo ir, com as lágrimas escorrendo pelos olhos, sem entender porque em um segundo no qual você se distraiu, a sua felicidade se foi com ele. Você vai chorar, vai querê-lo de volta. Mas é tarde demais. Esse segundo de distração fez com que ele se fosse para sempre. Talvez alguém o ache, e cuide dele como você gostaria de ter cuidado e não conseguiu. Talvez esse alguém seja mais cuidados e não se distraia, mantendo-o perto de si, e fazendo-o feliz como você foi, no tempo em que esteve com ele. No momento estou parada, vendo-o ir, como eu nunca quis.